Embora os depoimentos fossem sobre caixa dois de campanha, Marcelo Odebrecht e outros dirigentes contaram no processo do Tribunal Superior Eleitoral sobre uma espécie de conta-corrente destinada a repasses ao ex-presidente.
Por: Filipe Coutinho
Repórter do BuzzFeed News, Brasil
24 de março de 2017, 1:20 p.m.
Quando o empreiteiro Marcelo Odebrecht, delator da Lava Jato, prestou depoimento à Justiça Eleitoral, o objetivo era contar como foi o caixa-dois na campanha vitoriosa da chapa Dilma-Temer.
Mas o herdeiro da maior empreiteira do país acabou revelando detalhes de uma espécie de conta corrente dedicada ao ex-presidente Lula.
Como revelado pelo site O Antagonista, os depoimentos Marcelo Odebrecht e outros dirigentes da da empreiteira trataram de explicar planilhas que, além do PT, traziam pagamentos a Lula.
O que ele contou sobre Lula:
O “Amigo” - Lula tinha essa alcunha dentro da empreiteira e era essa a maneira de contabilizar o dinheiro dado ao ex-presidente.
A conta corrente - A Odebrecht apresentou uma planilha que registrava um saldo de R$ 23 milhões ao “Amigo”, com saldo em 2012. A empreiteira registrou ainda saques que totalizaram R$ 13 milhões, incluindo R$ 4 milhões ao Instituto Lula.
O Programa B - Nas planilhas, o responsável pelos saques aparecia como “Programa B”. Era uma referência a Branislav Kontic, ex-assessor o Antonio Palocci, preso pela Lava Jato.
Cash - Segundo a Odebrecht, Branislav combinava locais para receber dinheiro vivo, geralmente em hotéis. Às vezes o próprio Branisav recolhia os valores. Em outras, indicava quem seria o responsável.
O interlocutor - Não era à toa que Branislav aparecia como o responsável pelos saques de Lula, segundo a Odebrecht. Seu chefe, o ex-ministro Antonio Palocci, era quem tinha sido indicado por Lula para tratar de dinheiro com Marcelo Odebrecht.
Em nota, o ex-presidente Lula negou as acusações e questionou a a validade das planilhas. Leia a íntegra:
O ex-presidente Lula teve seus sigilos fiscais e telefônicos quebrados, sua residência e de seus familiares sofreram busca e apreensão há mais de um ano, mais de 70 testemunhas foram ouvidas em processos e não foi encontrado nenhum recurso indevido para o ex-presidente. Lula jamais solicitou qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer outra empresa para qualquer fim e isso será provado na Justiça. Lula não tem nenhuma relação com qualquer planilha na qual outros se referem a ele como “amigo”, que essa planilha nem esse apelido são de sua autoria ou do seu conhecimento, por isso não lhe cabe comentar depoimento sob sigilo de justiça vazado seletivamente e de forma ilegal.
Todas as doações para o Instituto Lula, incluindo as da Odebrecht estão devidamente registradas, com os nomes das empresas doadoras e com notas fiscais emitidas, foram entregues para a Receita Federal em dezembro de 2015 e já tornadas públicas há mais de 1 ano.