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A descoberta de um falso tenente-coronel do Exército em atuação na cúpula da Secretaria de Segurança do Rio surpreende as próprias autoridades. Ele foi desmascarado porque, depois de algum tempo fazendo-se de esquecido, teve que apresentar a identidade para que lhe confeccionassem um crachá. Solução: apresentou uma carteira falsa de tenente-coronel do Exército, com farda e tudo. Suspeitaram.
O episódio é explicado por falhas no processo de admissão, o que levou o secretário de Segurança a ordenar o recadastramento de todo o pessoal da Secretaria. Correto. Acontece que o falsário enganou muita gente que conviveu com ele no dia-a-dia durante bastante tempo, tanto gente da Secretaria quanto da PM e da PC. Ora, ainda que fosse realmente oficial do Exército, há que perguntar, já que foi encarregado de coordenar atividades da Subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional (das duas polícias, e destas com outros órgãos): onde teria aprendido os princípios doutrinários da segurança pública? E as estratégias, táticas e técnicas da atividade policial (polícia ostensiva, polícia de investigação e judiciária, inteligência policial, polícia de ordem, operações especiais, choque, abordagem etc.)? Onde teria adquirido o conhecimento sobre os constrangimentos constitucionais, legais e de ordem vária, impostos à Administração, à polícia e aos policiais no contato com a população? E na luta contra a delinqüência de rua e o crime organizado? Este me parece ser o principal ponto a discutir.
Os oficiais da PM e os delegados de polícia levam anos para se formarem e, em princípio, se especializarem nesses misteres. Ocorre que o falso coronel nem pelo Exército passou, o que também não faria muita diferença, de vez que a missão da Força Terrestre é outra, e suas estratégias, táticas, técnicas, armamento, equipamentos e valores também são outros. Então, a pergunta a fazer é a seguinte: como os verdadeiros profissionais de polícia e de segurança pública, da PC e da PM (e da PF) não notaram que se tratava de um farsante, tendo inclusive participado de palestras proferidas por ele sobre o serviço policial? Basta imaginar um falso médico (alguém que jamais tenha passado perto de uma faculdade de medicina ou de área afim), reunido com médicos de verdade, dialogando com eles durante dias sobre como fazer uma operação cirúrgica, e estes não notarem que se trata de um embusteiro. Pior, apreciarem-lhe as bravatas e a auto-atribuída capacidade profissional, como, ao que parece, aconteceu no caso em foco.
Na verdade, estamos diante de um dilema: ou o nosso personagem é um gênio (ainda que doentio, a merecer tratamento), ou a formação superior dos profissionais da segurança pública no Brasil carece de profundo redirecionamento (a formação pode ser ótima, mas estar mal direcionada). Pior: uma das razões para que acreditassem que o referido cidadão era coronel é a sua “fala firme”, como saiu na mídia… Se assim for, é fácil parecer um coronel, do Exército ou da PM: fala firme e pose. E uma última pergunta: nas lides do setor, onde residiria a diferença entre um falso coronel e um verdadeiro? Na cédula de identidade? Ora, esse não pode ser o critério para que alguém venha a ocupar cargos em área tão crítica, de tamanha responsabilidade pública, nem o fato de pertencer a esta ou àquela instituição. É isso?
*Jorge Da Silva. Nascido e criado no hoje chamado Complexo de Favelas do Alemão, no Rio, entrou para a PM aos 17 anos, tendo atingido o último posto, o de coronel, aos 43. Atualmente é professor da UERJ.
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