que a presença do ex-presidente Fernando Collor entre os integrantes da Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para investigar as relações do contraventor
Carlinhos Cachoeira com o setor público. O ex-presidente não se constitui num caso
único nesta CPI atípica, pelo fato de sua criação ter sido defendida por governistas e não
pela oposição, como costuma ocorrer: um em cada três de seus integrantes, definidos
na última semana, já esteve exposto a algum tipo de denúncia em sua vida política, com
acusações que vão de fraude em licitações a desvios no uso de passagens aéreas.
Por essas razões, o desafio da apuração parlamentar, ainda numa fase incipiente, será
o de ultrapassar sua condição de mero instrumento contra alegados desafetos políticos e
ir realmente a fundo, com o máximo de isenção, nas investigações.
Diante da gravidade dos fatos que lhe deram origem – um esquema criminoso com
Diante da gravidade dos fatos que lhe deram origem – um esquema criminoso com
tentáculos ligando interesses privados aos de diferentes poderes em âmbito municipal,
estadual e federal –, a chamada CPI do Cachoeira reúne condições de se equiparar a
outras estruturadas sob desconfiança e que resultaram em contribuições importantes
para o país. É o caso, entre outras, da CPI dos Anões, a partir da qual os brasileiros
tomaram consciência do nível de manipulação do Orçamento, e mais recentemente, das investigações no Congresso que desvendaram o esquema do mensalão. É o caso,
igualmente, da que levou à inédita deposição do então presidente Fernando Collor.
Hoje, depois de ter cumprido a sentença política que lhe foi imposta e de ter sido
legitimamente reconduzido à função parlamentar, pelo voto livre de seus eleitores,
o ex-presidente está no papel de investigador. O simbolismo de sua presença numa CPI,
sem nunca ter pedido desculpas à nação pelo seu desgoverno, reduz a seriedade da
investigação.
Além da incômoda presença do ex-presidente no papel de inquiridor, em meio a outras
Além da incômoda presença do ex-presidente no papel de inquiridor, em meio a outras
figuras controversas, a CPI do Cachoeira oferece outras razões para desconfiança por
parte dos brasileiros. De seus 63 integrantes, entre deputados e senadores, 41 militam
em partidos da base aliada,14 são de oposição e os demais são independentes.
Em tese, isso permitiria a aliados do governo manter a investigação sob controle e, em consequência, conduzi-la não para uma apuração isenta, mas para objetivos como o de
diminuir a importância do mensalão, por exemplo.
Uma CPI integrada por tantos parlamentares que já foram alvo de denúncias, entre os
Uma CPI integrada por tantos parlamentares que já foram alvo de denúncias, entre os
quais o ex-presidente Fernando Collor, precisa demonstrar ainda mais determinação
que as anteriores para garantir credibilidade perante a sociedade. Sem esse cuidado,
o risco é de o saldo dos trabalhos da investigação se limitar a mero diversionismo,
desgastando ainda mais o instrumento da CPI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário