domingo, setembro 09, 2012

FICHA LIMPA É AMEAÇADA PELO TSE




REVISTA ISTO É 09/09/2012

 O TSE AMEAÇA A FICHA LIMPA

Considerada o caminho mais curto para livrar a política brasileira dos maus gestores e
de gente acostumada a se apropriar de dinheiro público, a lei da ficha limpa começou
a valer este ano, mas, na semana passada, uma resolução sem muito alarde do 
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) colocou sua aplicação sob ameaça. O TSE decidiu 
que o fato de um administrador ter as contas de sua gestão rejeitadas não é motivo 
para impedi-lo de ser candidato.

Os ministros entenderam que a inelegibilidade somente pode ser declarada se houver
provas suficientes de que o político teve culpa pelos desvios ou falhas no uso de 
recursos públicos. A decisão que atingiu a alma de uma das mais populares leis 
brasileiras foi tomada durante a análise da ação que impugnou a candidatura do 
vereador de Foz do Iguaçu, Valdir de Souza Maninho, por ordenamento irregular de 
despesas quando ele era secretário de Esportes do município.

O TSE liberou o candidato alegando que o Tribunal de Contas não comprovou sua 
culpa. O mais paradoxal é que a jurisprudência criada prejudica a execução da ficha 
limpa no exato momento em que o próprio TSE investe mais de um milhão de reais em
campanhas no rádio e na televisão em defesa da lei.

A interpretação abre uma brecha que pode beneficiar cerca de dez mil candidatos 
barrados com base no artigo da lei que exige a aprovação de contas durante gestões
anteriores. “Foi aberto um flanco destrutivo na lei e isso partiu de quem menos se 
esperava: do próprio tribunal. A decisão dos ministros terá um efeito danoso porque a
rejeição de contas é o principal item da norma, é o coração dela”, reclama o juiz 
eleitoral Marlon Reis, um dos maiores articuladores da lei da ficha limpa.

No Rio Grande do Norte, por exemplo, nada menos do que 95% dos candidatos 
barrados podem se livrar dos processos. “Os ministros dilaceraram o papel e a 
importância das decisões dos órgãos de controle”, comenta o procurador do Rio 
Grande do Norte, Carlos Thompson. Em outros Estados, como Minas Gerais, São 
Paulo e Espírito Santo, as falhas na aplicação de recursos públicos são responsáveis
por mais da metade dos pedidos de indeferimentos de candidaturas.

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