O ministro do Desenvolvimento, assessores e familiares vão aos principais jogos da Copa com ingressos pagos pelos contribuintes
Robson Bonin
(Apex Brasil)
Desde que a bola começou a rolar nos estádios, o governo pôs em prática uma série de ações para fazer da Copa do Mundo um instrumento de estímulo econômico ao país. Um dos planos mais ambiciosos dessa estratégia foi elaborado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Patrocinadora oficial do Mundial, a agência, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, organizou uma gigantesca agenda corporativa com empresários estrangeiros. Com camarotes nos principais estádios, a Apex adquiriu milhares de ingressos para os jogos com o propósito de distribuí-los entre potenciais investidores. A ideia era usar as partidas da Copa como atrativo para proporcionar um ambiente de negócios favorável ao empresariado nacional. Os ingressos seriam a cereja do bolo. Uma ação de marketing legítima, não fosse o fato de o objetivo ter sido desvirtuado antes mesmo do pontapé inicial.
Autoridade máxima da área, o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, tinha por dever de ofício liderar o projeto organizado pela Apex, num momento em que as atenções do planeta estão voltadas para o Brasil. Mas Borges tinha outros planos para a Copa e para os ingressos comprados pela agência. Em vez de utilizar os bilhetes para atrair investidores, o ministro resolveu usar uma parte dos convites para privilegiar seus familiares e assessores mais próximos. Em 3 de junho, uma semana antes do início dos jogos, a Apex enviou ao gabinete de Mauro Borges seis ingressos para cada uma das doze partidas nas quais a agência havia programado eventos com empresários estrangeiros. O pacote de 72 ingressos — todos de categoria 1, a mais nobre e cara dos estádios — incluiu entradas para a abertura da Copa, os jogos do Brasil na primeira fase e todas as partidas decisivas realizadas em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza e Belo Horizonte, até mesmo a mais concorrida delas, a grande final no Rio de Janeiro.
No jogo de abertura, Mauro Borges estava lá acompanhado da mulher, de um dos filhos, do chefe de gabinete, Rubens Gama, e de mais dois convidados. Apesar de utilizar ingressos da Apex, o ministro nem sequer apareceu no stand para simular um eventual compromisso de trabalho. Até a semana passada, o time da mordomia reunia, além de Mauro Borges e do seu chefe de gabinete, os secretários Humberto Ribeiro e Heloísa Menezes. Procurado para explicar o uso dos ingressos, o ministro exaltou-se quando questionado: “Você não tem o direito de me ligar no celular. Eu sou um ministro de Estado. Passe bem”. O secretário Humberto Ribeiro, que foi ao jogo entre Brasil e México com familiares, em Fortaleza, teve um lapso de memória. “O que foi passado foram ingressos para o network da Apex, e nós encaminhamos para empresários. Sobre o jogo?... Não sei se fui ao jogo”, disse. Já a secretária Heloísa Menezes, que usou as entradas em Brasília, admitiu que foi ao jogo com um acompanhante, mas estava em serviço de “natureza social”: “Fui ao jogo em uma atividade de representação, porque, como secretária, tenho de cumprir atividades em um conjunto de eventos sociais. Levei um acompanhante de ordem pessoal, porque o jogo é um evento de natureza social como vários outros”. Antes de repassar os convites ao ministro, a Apex, já prevendo o que estava por acontecer e os desdobramentos que o uso indevido dos ingressos poderia gerar junto à Controladoria-Geral da União e ao Ministério Público Federal, redigiu um documento no qual pedia “apoio institucional” do ministério durante os jogos. Era a porta de escape para justificar a presença da turma da mordomia nos estádios. A tática não deu certo.
Fonte: VEJA
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