Eduardo Militão
Correio Braziliense
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Mensagens de correio eletrônico investigados na Operação Zelotes apontam que deputados e senadores deveriam receber uma parte de dinheiro de propina para negociação na Medida Provisória nº 471. De acordo com a força-tarefa do caso, a norma criada para estender benefícios fiscais para montadoras de automóveis, foi “comprada” por um grupo de lobistas contratado pelas fábricas da MMC Mitsubishi e Caoa Hyundai no Brasil. Os empresários e os operadores negam.
Relatório da Polícia Federal, no entanto, afirma que as montadoras passaram a ser inadimplentes aos escritórios do “consórcio” de lobby, formado pelo Marcondes & Mautoni, de Mauro Marcondes, pelo lobista Alexandre Paes Santos, o APS, e pela SGR Consultoria Empresarial, do ex-integrante do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) José Ricardo Silva. Um relatório apreendido pela força-tarefa mostra os lobistas reclamando de que havia pagamento em atraso, o que prejudicava a quitação de compromissos com os “colaboradores”.
A MP foi aprovada em 2010. Em 15 de outubro daquele ano, às 16h54, uma pessoa identificada como Raimundo Lira manda um e-mail para a secretária de Marcondes. Para a PF, o verdadeiro cobrador é o ex-suplente de deputado Halysson Carvalho (PMDB-PI), que utilizaria um nome falso. “Peço-lhe que intervenha nos honorários dos quais a MMC vem pagando e a Caoa, não; os deputados e senadores dentre os escritórios e outros os quais não convêm (sic) citar nomes, agora”, disse o cobrador. Ele afirmou que Marcondes “alega ter entregado a pessoas do atual governo, PT, a quantia de R$ 4 milhões”. No entanto, a mensagem, supostamente de autoria de Halysson, diz que isso “não é verdade”, mas desculpa para não fazer os pagamentos.
PRAZO DE SEIS DIAS
O e-mail estipula um prazo seis dias para o pagamento de US$ 1,5 milhão. Caso contrário, ameaça distribuir um dossiê a partidos de oposição e à imprensa sobre ilegalidades em benefício das duas montadoras. A secretária de Marcondes encaminha a mensagem para o chefe.
De acordo com a Polícia Federal, a extorsão revela destinatários da propina. “Embora a ameaça possa parecer um pouco fora de contexto, na verdade ela confirma a possível corrupção para aprovação da citada MP 471”, diz relatório da PF. “Os dados constantes delas são verossímeis e não fogem à realidade”, continua. “O próprio valor comentado de R$ 4 milhões de reais que bate com o comentado no “Café: Gilberto Carvalho” (anotação manuscrita apreendida) que integrava o governo do PT (também mencionado), por ser esse o então chefe de gabinete da Presidência.” Na interpretação da mensagem, a polícia narra que o cobrador “pede a intervenção junto ao Mauro Marcondes, para pressionar a Caoa a pagar os honorários devidos aos deputados e senadores e escritórios”.
MENSAGEM ESTARRECEDORA
Em outra mensagem de e-mail, considerada “estarrecedora” pela PF, José Ricardo passa aos sócios Eduardo Valadão e APS orientações “para aplacar a sanha de cobrança dos parlamentares envolvidos na aprovação da Medida Provisória na Câmara dos Deputados explicando que os pagamentos dos ‘acertos’ seguiriam um ‘fluxo normal’”. “O que indica a possível corrupção de então parlamentares que ainda não foram identificados”, continua o relatório da polícia.
A PF e o Ministério Público não identificaram, pelo menos até agora, o nome dos parlamentares envolvidos. Na quinta-feira, o Correio revelou que o então deputado Moreira Mendes (PSD-RO) redigiu emendas na MP 512, sugeridas por pessoas ignoradas, que permitiram à Ford e à MMC se livrarem de R$ 3,2 bilhões em multas no Carf. O ex-parlamentar disse que fez as modificações “sem nenhum tipo de compromisso”.
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