CERCO A DEMÓSTENES. Novas conversas revelam uso de cargo em benefício de bicheiro.
Partido prepara expulsão do senador, cuja situação se complica com a divulgação de diálogos
- ZERO HORA 01/04/2012
Novos diálogos que teriam como interlocutores o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o bicheiro
Carlinhos Cachoeira, publicados na edição da revista Veja desta semana, ampliam as suspeitas de
que os dois, além de amigos, mantinham relações comerciais. As conversas foram captadas pela
Polícia Federal (PF) durante as investigações da Operação Monte Carlo, que apura a exploração de
jogos caça-níqueis no Distrito Federal. O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu inquérito para
investigar Demóstenes.
Um dos diálogos revelados por Veja, que teria ocorrido em abril de 2011, indicaria que Demóstenes
usava o cargo para ajudar o contraventor a resolver problemas junto à Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). Cachoeira é dono de laboratório farmacêutico. Em outro contato, o senador pediria
ajuda a Cachoeira para arrumar contratos em Mato Grosso para uma agência de publicidade de um
amigo.
Em outra situação em que o contraventor estaria pedindo ajuda do político para que um amigo
resolvesse problemas junto ao Ibama, Demóstenes, além de supostamente garantir o apoio, teria se
oferecido para tratar do assunto diretamente com a ministra do Meio Ambiente.
Na sexta-feira, outras conversas que complicam a situação do senador haviam se tornado públicas.
Grupo de contraventor pediria nomeações
Neste cenário, a expulsão de Demóstenes está sendo pedida com contundência pelo partido dele.
Já há ameaça de abertura de processo de expulsão da sigla, caso ele não apresente explicações
convincentes.
A apuração da PF também teria reunido indícios de que o grupo de Cachoeira teria acesso aos
governos de Brasília, comandado por Agnello Queiroz (PT), e de Goiás, de Marconi Perillo (PSDB),
para fazer indicações de nomeações. O advogado do senador, Antonio Carlos de Almeida Castro,
disse à revista que seu cliente foi “vítima de uma investigação ilegal”. Os dois governadores negaram
qualquer relação com pessoas ligadas ao contraventor.
O futuro do senador
- Como a tese da defesa em relação à investigação no STF é de que as gravações não são válidas,
porque Demóstenes teria foro privilegiado e não houve pedido ao Supremo para que autorizasse a
apuração, a maior preocupação do senador é com o futuro político.
- A renúncia para evitar a cassação, solução muito adotada no passado por outros políticos sob
pressão, foi esvaziada pela Lei da Ficha Limpa.
- Se se retirar de cena, Demóstenes pode perder o direito de concorrer a cargos públicos.
- Se prosseguir e for condenado no Conselho de Ética do Senado, pode ser mandado a plenário,
onde a chance de cassação é grande, já que acumula inimigos entre governistas, que são maioria.
Diálogos
O senador teria se oferecido para falar com ministra para ajudar amigo do contraventor:
- Demóstenes – Tô achando que este trem de Ibama não vai resolver nada pra ele, não. Tô às ordens,
mas acho que é melhor ir por cima. Eu tenho acesso bom à ministra.
- Cachoeira – À ministra?
- Demóstenes – Ministra! A ministra lá do Meio Ambiente. O Ibama é subordinado a ele, uai!
Demóstenes teria pedido ajuda para instalar no Mato Grosso agência de publicidade de um amigo:
- Demóstenes – Mestre, é o seguinte: a gente tem uma agência de publicidade querendo
entrar lá no Mato Grosso. Você acha que consegue?
- Cachoeira – Quem tem?
- Demóstenes – Amigo nosso.
- Cachoeira – Pode ser. Vou olhar isso agora. Se for interesse seu...
- Demóstenes – Tá licitando para a Copa. Acho que é um negócio bacana.
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