Cachoeira está interessada em salvar a própria pele ou em proteger aliados.
Izabelle Torres - REVISTA ISTO É N° Edição: 2216, 29.Abr.12 - 11:22
Logo que saiu o acordo no Congresso para a instalação da Comissão Parlamentar
Logo que saiu o acordo no Congresso para a instalação da Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) destinada a investigar a rede de relações do bicheiro Carlinhos
Cachoeira, uma guerra foi travada por políticos de diferentes partidos por uma vaga
no colegiado. Ao contrário do que possa parecer, o movimento não foi motivado
apenas pela disposição dos parlamentares de apurar denúncias e vencer a
queda-de-braço entre governo e oposição. Teve origem também nos interesses
pessoais e nas relações umbilicais que esses políticos e seus aliados mantêm com
a empresa Delta e com o próprio contraventor. ISTOÉ mapeou as ligações dos
parlamentares que compõem a CPI com quem deve ser alvo das investigações.
Descobriu que quase a metade dos 32 membros da CPI está interessada em salvar
a própria pele ou interferir nas apurações para distanciar aliados dos escândalos.
Um dos parlamentares que vai usar a comissão para se proteger das suspeitas
que recaem sobre ele é o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). Apesar de se
dizer disposto a colaborar com as investigações, o delegado tem motivos para se
preocupar com os rumos da CPI. Protógenes aparece em gravações telefônicas
feitas em 2009 por Carlos Cachoeira em que o então delegado da PF combinava
um encontro com o então diretor da Delta Claudio Abreu, preso na quarta-feira 25.
Em outra ligação, Protógenes conversava com o araponga Adalberto Matias, o Dadá,
sobre estratégias para atrapalhar o processo aberto na corregedoria contra ele por
suspeitas de irregularidades durante as investigações da Operação Satiagraha.
As indicações feitas pelo PR também são um retrato dos interesses paralelos.
O deputado Mauricio Quintella (AL) é aliado do mandachuva do partido Valdemar
Costa Neto e conseguiu a prerrogativa de indicar a direção do Dnit em Alagoas.
É o departamento que responde por obras na BR 101, sob a responsabilidade da
Delta e repleta de denúncias de irregularidades.
“Aqui na CPI, vale o ditado: diz-me como é composta que direi onde vais dar”,
avalia o líder do PSol, Chico Alencar (RJ).
A composição da comissão também conta com um grupo aguerrido em defesa
de governadores ou aliados enrolados com a empreiteira Delta e com Cachoeira.
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) é um desses. Seu padrinho político é o
ex-governador Paulo Hartung (PMDB), que pode virar objeto da CPI porque na
sua gestão a Delta conseguiu nada menos do que R$ 200 milhões em obras no
Espírito Santo. A indicação do deputado Filipe Pereira (PSC-RJ) também é
estratégica na CPI, especialmente para a bancada fluminense.
Seu amigo, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é um dos políticos mais
próximos a Fernando Cavendish, que renunciou na última semana ao Conselho de
Administração da Delta em meio às denúncias envolvendo seu nome. A disposição
de tantos políticos de fazerem um jogo paralelo faz com que os parlamentares
concordem pelo menos em um ponto: o amontoado e interesses que ronda a CPI
pode levá-la a um desfecho indesejado e temido por todos.
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