domingo, abril 29, 2012

CPI - SALVAR A PRÓPRIA PELE E PROTEGER ALIADOS


Inimigos na trincheira. Metade dos parlamentares indicados para a CPI do 
Cachoeira está interessada em salvar a própria pele ou em proteger aliados.
 Izabelle Torres - REVISTA ISTO É N° Edição: 2216, 29.Abr.12 - 11:22

Logo que saiu o acordo no Congresso para a instalação da Comissão Parlamentar 
de Inquérito (CPI) destinada a investigar a rede de relações do bicheiro Carlinhos 
Cachoeira, uma guerra foi travada por políticos de diferentes partidos por uma vaga 
no colegiado. Ao contrário do que possa parecer, o movimento não foi motivado 
apenas pela disposição dos parlamentares de apurar denúncias e vencer a 
queda-de-braço entre governo e oposição. Teve origem também nos interesses 
pessoais e nas relações umbilicais que esses políticos e seus aliados mantêm com 
a empresa Delta e com o próprio contraventor. ISTOÉ mapeou as ligações dos 
parlamentares que compõem a CPI com quem deve ser alvo das investigações. 
Descobriu que quase a metade dos 32 membros da CPI está interessada em salvar
a própria pele ou  interferir nas apurações para distanciar aliados dos escândalos. 

Um dos parlamentares que vai usar a comissão para se proteger das suspeitas 
que recaem sobre ele é o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). Apesar de se
dizer disposto a colaborar com as investigações, o delegado tem motivos para se 
preocupar com os rumos da CPI. Protógenes aparece em gravações telefônicas 
feitas em 2009 por Carlos Cachoeira em que o então delegado da PF combinava 
um encontro com o então diretor da Delta Claudio Abreu, preso na quarta-feira 25. 
Em outra ligação, Protógenes conversava com o araponga Adalberto Matias, o Dadá, 
sobre estratégias para atrapalhar o processo aberto na corregedoria contra ele por 
suspeitas de irregularidades durante as investigações da Operação Satiagraha. 

As indicações feitas pelo PR também são um retrato dos interesses paralelos. 
O deputado Mauricio Quintella (AL) é aliado do mandachuva do partido Valdemar 
Costa Neto e conseguiu a prerrogativa de indicar a direção do Dnit em Alagoas. 
É o departamento que responde por obras na BR 101, sob a responsabilidade da 
Delta e repleta de denúncias de irregularidades. 

“Aqui na CPI, vale o ditado: diz-me como é composta que direi onde vais dar”, 
avalia o líder do PSol, Chico Alencar (RJ). 

A composição da comissão também conta com um grupo aguerrido em defesa 
de governadores ou aliados enrolados com a empreiteira Delta e com Cachoeira. 
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) é um desses. Seu padrinho político é o 
ex-governador Paulo Hartung (PMDB), que pode virar objeto da CPI porque na 
sua gestão a Delta conseguiu nada menos do que R$ 200 milhões em obras no 
Espírito Santo. A indicação do deputado Filipe Pereira (PSC-RJ) também é 
estratégica na CPI, especialmente para a bancada fluminense. 
Seu amigo, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é um dos políticos mais
próximos a Fernando Cavendish, que renunciou na última semana ao Conselho de
Administração da Delta em meio às denúncias envolvendo seu nome. A disposição
de tantos políticos de fazerem um jogo paralelo faz com que os parlamentares 
concordem pelo menos em um ponto: o amontoado e interesses que ronda a CPI 
pode levá-la a um desfecho indesejado e temido por todos.

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