Juremir Machado da Silva - CORREIO DO POVO, 10/04/2012
Prefeitos gaúchos marcharão hoje até a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul
em protesto contra o projeto do Tribunal de Conta do Estado (TCE) de aumentar o valor
das multas contra agentes públicos que cometerem irregularidades. É tempo de
marchas. Quem mais marcha, claro, somos nós, os cidadãos, contribuintes, seres
comuns, banais e que pagam a conta. Estamos sempre marchando. O TCE quer elevar
o teto das multas de R$ 1,5 mil para R$ 20 mil. Os prefeitos não aceitam nem ouvir falar
no assunto. Alegam que, em vez de multar, o TCE deve formar, informar e dar tempo
para as correções. Segundo eles, os erros acontecem por desinformação, não por má-fé.
Alertam que se as multas subirem muito ninguém mais vai querer concorrer. Será mesmo?
Ninguém mesmo?
A Famurs entende que o projeto do TCE é inconstitucional. Fica difícil compreender.
A Famurs entende que o projeto do TCE é inconstitucional. Fica difícil compreender.
As multas já existem. Aumentar o valor é que criaria a inconstitucionalidade? Não caberia
ao TCE legislar. Em bom português, a plebe entende o seguinte: os prefeitos não querem
correr o risco de meter a mão no bolso. É a teoria do motorista infrator. O agente público,
em lugar de multar, deveria orientar, educar, ajudar, informar, apoiar, compreender e
relativizar. Acontece que já existem cursos de formação de gestores públicos. A Famurs
sustenta que aumentar o valor da multa não resolve, pois o Maranhão, detentor das multas
mais caras, não é exemplo de administração sem erros. O Maranhão não conta.
A Sarneylândia vive com regras próprias. Sabe-se lá se são aplicadas multas por lá.
Ou se tem algum jeitinho para escapar. Por aqui, o bicho está pegando. Não tem mole.
Entre nós, que os prefeitos não nos ouçam, um teto de R$ 1,5 mil, com muitas multas não
Entre nós, que os prefeitos não nos ouçam, um teto de R$ 1,5 mil, com muitas multas não
excedendo R$ 300,00, não assusta ninguém. É quase um convite a relaxar e gozar. Em contrapartida, os prefeitos parecem ter razão no seguinte: o TCE é implacável com os
chefes de executivo municipal, mas mansinho com o governo do Estado. As contas de
governador sempre acabam aprovadas. Vale lembrar que quem passa a borracha é a
Assembleia Legislativa. Fiquei sabendo que tem prefeito a favor do TCE e contra a fúria
da Famurs. Jairo Jorge, de Canoas, estaria entre os insurretos. Aposto, no entanto, que
os deputados vão fraquejar. Como não ouvir o pranto dos amigos prefeitos acossados
por auditores frios? Como não se lembrar do tempo em que muitos deles, deputados,
eram prefeitos e enfrentavam os mesmos abacaxis e pepinos?
Tudo pode ser. Mas fica feio prefeitos marcharem em favor do que, a olho nu, parece ser
Tudo pode ser. Mas fica feio prefeitos marcharem em favor do que, a olho nu, parece ser
a defesa do direito de cometer erros ou irregularidades sem o risco de pagar o pato ou
ter assumir a paternidade da patuscada. Por que não marchar também contra a lei de responsabilidade fiscal? Será que é tão difícil assim aprender a gerir as contas]
municipais sem cometer erros técnicos e contábeis? Tenho a impressão de que a
chamada opinião pública ficará do lado do TCE. Será que os deputados terão coragem
de ficar contra a opinião pública? As marchas vão continuar.
Continuaremos todos marchando. Estou de língua de fora.
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