BEATRIZ FAGUNDES, O SUL
Porto Alegre, Terça-feira, 10 de Abril de 2012.
Claro que o indivíduo em questão é Carlinhos Cachoeira. O homem tem um rastro de respeito
e dizem até que ele tem uma bancada definida a seu serviço no Legislativo com tentáculos em
todos os Poderes.
Será mesmo que a casa caiu para o Al Capone do Planalto Central? Claro que o indivíduo em
questão é Carlinhos Cachoeira, o pivô do caso Waldomiro Diniz que, em 2004, divulgou um
vídeo gravado em 2002 no qual o braço direito do então denominado primeiro ministro do
governo Lula, José Dirceu, aparecia cobrando uma mixaria para "facilitar" a vida do bicheiro.
O escândalo foi imediato e levado pelo sabor de quem sabe, sonho de muitos, derrubar o
presidente Lula, o enredo foi limitado a buscar provas contra o partido dos trabalhadores
deixando passar de lombo liso a figura do "corruptor". O fio da meada apareceu de graça para
os políticos desenrolarem, e tinha potencial para destruir a base de uma quadrilha já instalada
no eixo Brasília-Goiás, atuando com total desenvoltura há mais de 17 anos, segundo a PF
(Polícia Federal).
Foi comovente a afirmação do senador Demóstenes Torres após a prisão do suposto chefão:
"Depois do escândalo Waldomiro Diniz, eu pensei que ele tivesse abandonado a contravenção,
e se dedicasse apenas a negócios legais", afirmou. Ele ainda declarou: "Sou amigo dele há
anos. A Andressa, mulher dele, também é muito amiga da minha mulher". Aliás, a Andressa foi
usada como tema dos 298 telefonemas que o senador trocou com o bicheiro nos últimos seis
meses. Ela abandonou o marido no ano passado para viver um grande amor com Cachoeira.
O pobre homem rejeitado é Wilder Morais, suplente de Torres, e poderá assumir a vaga no
Senado caso o titular venha a ser cassado. Dá para imaginar o doce sabor da vingança no ar.
A verdade é que estamos diante de um capo de peso. Seu advogado, Marcio Thomaz Bastos,
ex-ministro de Lula, segundo consta, foi contratado por 15 milhões de reais. Vale cada centavo,
pois ninguém duvida do seu notório saber. O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA),
anunciou que hoje o partido começará a recolher assinaturas para propor a criação de uma
CPI para investigar as relações do empresário Carlinhos Cachoeira. Dá até medo. Se puxarem
bem o fio é capaz de Cachoeira estar envolvido nas negociações de JK para construir a nova
capital. O homem tem um rastro de respeito e dizem até que ele tem uma bancada definida a
seu serviço no Legislativo com tentáculos em todos os Poderes.
Indiretamente, as investigações da PF atingem as administrações dos governos de Agnelo
Queiroz (PT-DF) e Marconi Perillo (PSDB-GO). O governador tucano declarou: "Em uma
hora como essa não dá para haver hipocrisia. Todos os políticos importantes de Goiás
tiveram algum tipo de relação ou de encontro com o Carlos Ramos, como empresário e dono
de indústria de medicamentos em Anápolis, que se relacionou durante muito tempo com várias
personalidades da sociedade goiana", disse. O juiz Paulo Moreira Lima da Vara Federal de
Anápolis, responsável pelo processo, escreveu: "É assustador o alcance dos tentáculos da
organização criminosa, montada para dar suporte à exploração ilegal de máquinas caça-
níqueis, bingos de cartelas e jogo do bicho em Goiás, a partir de um incrível esquema de
lavagem de dinheiro, evasão de divisas, contrabando, corrupção, peculato, prevaricação e
violação de sigilos.
O grupo era altamente profissionalizado, estável, permanente, habitual, estruturado, montado
para cometer crimes graves. Para tal, mantinha uma estrutura estável, entranhada no seio do
Estado com, inclusive, a distribuição centralizada de meios de comunicação para o
desenvolvimento das atividades, com o objetivo de inviabilizar a interferência das agências
sérias de persecução".
Sem ilusões, La Fontaine ensinou que a montanha pode parir um rato. A conferir!
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