REVISTA ISTO É N° Edição: 2238 |
A organização milionária da mulher de Delúbio. Mônica Valente comanda
A organização milionária da mulher de Delúbio. Mônica Valente comanda
o escritório brasileiro de associação que recebe R$ 7 mi por ano para
representar sindicatos
Josie Jeronimo
DONA DO COFRE
O ex-tesoureiro do PT (á esq.), Delúbio Soares, diz que depende da mulher,...
Josie Jeronimo
DONA DO COFRE
O ex-tesoureiro do PT (á esq.), Delúbio Soares, diz que depende da mulher,...
Mônica Valente, para honrar suas despesas.
Ela cobra um euro por filiado à associação que dirige
Exonerado do cargo de professor da rede pública de Goiás e vivendo oficialmente
Exonerado do cargo de professor da rede pública de Goiás e vivendo oficialmente
da renda de uma imobiliária virtual, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares costuma
dizer que depende da mulher para honrar suas despesas. Mas não deve ser com
os rendimentos do ofício de psicóloga que Mônica Valente tem conseguido ajudar o
marido. Desde a militância à frente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na
década de 90, Mônica aprofundou sua atuação profissional no mundo dos sindicatos
de servidores. Membro do diretório nacional do PT, a mulher de Delúbio comanda o
escritório brasileiro da Internacional do Serviço Público (ISP), entidade que
desempenha o papel de intermediário entre os sindicatos de funcionários públicos e
organismos globais, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A adesão
das confederações à ISP custa um euro por filiado. Em conjunto, as 26 confederações
filiadas à associação comandada por Mônica Valente repassam para ela R$ 7 milhões
por ano das receitas obtidas com o imposto sindical. As informações foram
confirmadas à ISTOÉ por dirigentes de entidades ligadas a esse braço brasileiro da
organização internacional.
O destino desse dinheiro todo, porém, é um mistério até mesmo para as entidades
O destino desse dinheiro todo, porém, é um mistério até mesmo para as entidades
que pagam pela filiação. A ISP recebe recursos das confederações que representam
os servidores públicos e não presta contas. Por isso, a filiação à ISP gera polêmica
na base das confederações. Sindicalistas contrários ao repasse de dinheiro à
associação alegam não entender para que serve o dinheiro aplicado na entidade
para a representação internacional. Argumentam que os resultados da atuação da
organização comandada pela mulher de Delúbio deixam a desejar. Em dez anos de
existência, por exemplo, apenas uma denúncia contra cerceamento dos direitos
trabalhistas teria sido aceita pela OIT. “Ela não tem participação nas principais
causas, não tem programa. É mais uma entidade em que os dirigentes se apegam
à estrutura para ter benefícios. Recebe arrecadação das entidades e não tem
transparência”, critica Sandro Pimentel, um dos coordenadores da Federação de
Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra). Servidores
do Judiciário tentaram impedir na Justiça o desconto nos salários para bancar
entidades, que segundo Adilson Rodrigues, diretor do Sintrajud, nem deveriam existir.
“É um absurdo descontar um dia do salário do trabalhador para sustentar sindicatos
de fachada. Os dirigentes se lambuzam no dinheiro suado do servidor. No dia a dia,
a ISP é fictícia. A atuação internacional de um sindicato é algo pontual, não de filiação
em tempo integral.
Gastamos dinheiro para bancar uma entidade fajuta”, acusa Rodrigues.
A denominação “internacional” que a associação comandada por Mônica carrega
A denominação “internacional” que a associação comandada por Mônica carrega
também não combina com a estrutura que o ISP tem no Brasil. Como uma espécie
de “franquia” do órgão internacional, a associação registrou CNPJ em São Paulo em
2001, antes da entrada da mulher de Delúbio. Embora tenha mais de dez anos de
existência e opere uma verba milionária, a associação que embolsa recursos das
confederações sindicais se resume a uma sala no centro da capital paulista e é
tocada hoje por apenas duas pessoas. Além de Mônica, a entidade também é
representada por Jocélio Drummond. Durante a semana, a reportagem de ISTOÉ
procurou a mulher de Delúbio e outros representantes da ISP, mas a secretária da
organização insistiu que a entidade não contava com nenhum outro responsável além
de Mônica e Jocélio, ambos fora do País, em viagem à Argentina. No papel de
representantes dos servidores públicos brasileiros no plano internacional, os dois se
revezam realizando palestras, recrutando integrantes das confederações para formar
grupos de trabalhos – com o objetivo de discutir temas do funcionalismo – e
participando de congressos dos sindicatos filiados. Em eventos da sede da
Internacional, eles se apresentam como representantes do escritório brasileiro.
Durante a greve dos servidores federais, este ano, a ISP também prestou consultoria
às confederações analisando os pleitos dos servidores que seriam apresentados ao
governo. “O principal trabalho na ISP é orientar nas demandas do funcionalismo e
discutir o direito de greve”, diz João Domingos, presidente da Confederação dos
Servidores Públicos do Brasil (CSPB), entidade que reúne 2,5 milhões de
funcionários de órgãos municipais, estaduais e federais.
Mônica Valente não é novata no meio sindical. Antes de assumir a defesa de causas
Mônica Valente não é novata no meio sindical. Antes de assumir a defesa de causas
do serviço público, ela militou na ONG Instituto Observatório Social (IOS), ligada à
CUT. O IOS atua hoje como parceiro da associação da mulher de Delúbio. Em 2011,
o instituto recebeu R$ 200 mil da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e o
mesmo valor da Petrobras para ação de comunicação institucional.
Agora, no entanto, Mônica manipula um orçamento bem mais polpudo. A maior parte
dos recursos milionários que bancam a entidade vem de descontos do contracheque
de servidores públicos federais para as confederações.
A obrigação de dar um dia trabalhado por ano aos movimentos sindicais está prevista
A obrigação de dar um dia trabalhado por ano aos movimentos sindicais está prevista
na Constituição. Mas um processo em tramitação no Tribunal de Contas da União
(TCU) questiona a legalidade da transferência de dinheiro para as confederações de
representação do serviço público, cujos funcionários não são regidos pela CLT.
Servidores também entram na Justiça para questionar o desconto. Mesmo assim,
entidades como a administrada por Mônica Valente recebem mais de R$100 milhões
todos os anos.
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