"Que ódio de quem fala de eleição no Facebook, bloqueio todo mundo, não é lugar pra isso". Cansei de ler esse tipo de bobagem durante o período "oficial" de campanha. Geralmente vem da mesma pessoa que depois passa a publicar posts contra a situação política do país ou vive reclamando dos serviços públicos. É o tipo de pessoa que usa o "não votei nele" como argumento para não se sentir responsável pelo que a atual gestão vem errando. É, não votou. Mas também não convenceu ninguém a votar na outra opção. Nem discutiu ideias. Nem projetos. Nem nada. Isso tudo porque você estava muito, muito chateada(o) de falar sobre política em "seu espaço de lazer". É o sujeito que entra em campo, senta no chão e depois diz não ser responsável pela goleada que o time levou.
Deixa eu contar um segredo: não existe lugar MELHOR pra se falar de eleição e política do que as redes sociais. E já está acontecendo, os candidatos à prefeito e vereadores já estão em campanha no Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e até mesmo no Snapchat.
Isso não é apenas um reflexo do maior respeito à consicência política que parece ter despertado em muitos cidadãos. E nem tão somente um movimento óbvio diante dos números relacionados ao brasileiro e a web (como o fato de sermos 120 milhões de brasileiro conectados, quase 100 milhões de usuários de WhatsApp e outros 96 milhões de Facebook). Verdade, a tendência era o digital ganhar cada vez mais corpo nas eleições, por seu tamanho e capilaridade, por sua capacidade de colaboração, pela "transparência" e coisas do tipo, mas o que realmente deu aquele empurrão foram as mudanças na lei eleitoral.
Eu trabalho com marketing político desde sempre. Já distribuí boné em cidade de interior puxando um carrinho de mão, já fui diretor de arte, já fui encarregado de novas mídias e, de 2008 para cá, atuo no digital. Desde de 2008 eu ouço: esse vai ser o ano do digital nas campanhas políticas. Nunca foi. O digital foi importante em algumas campanhas mas na maioria delas, nas grandes — e no Brasil, foi tratado com um apendíce. Ah, legal de ter, ajuda a parecer moderno, acerta aqui e ali, erra aqui e acolá, mas não chega junto da importância dos cabos eleitorais, do conteúdo pra TV, dos marketeiros milionários. Ao menos não na cabeça de candidatos um tanto obtusos ou marqueteiros jurássicos. Antes de 2014 havia toda uma demagogia no uso da web pra campanha, com sua importância maquiada e com sua entrega real restrita. Aí veio essa última reforma eleitoral…
Vou resumir:
No rádio eram 2 programas diários de 20 minutos. Agora serão apenas 10 minutos.
Eram 45 dias de programa de TV. Serão apenas 30 dias.
Acabaram as inserções de TV de 15" (que ajudavam na frequência).
Os 90 dias de campanha viraram apenas 45 dias.
Pinturas de muro, faixas e cavaletes? Proibidos.
As peças de rua podem ter no máximo meio metro quadrado (um selo?).
Doações apenas de pessoas físicas, e com teto (opa, cadê o dinheiro?).
É, campanha mais curta, com menos verba, com menos TV e Rádio e com menos campanha na rua. 
Porém essa mudança deu mais gás a pré-campanha (além de "equalizar" as chances quando deixou as campanhas "mais baratas" — ao mesmo tempo que praticamente matou o financiamento). O sujeito já pode "ser candidato", de agora, de hoje. Não pode pedir voto — o que na verdade nem faria diferença, menos de 5% da população está preocupado com eleição agora, mas pode apresentar propostas, debater causas, criar militância, ganhar propriedade sobre temas e se fazer notar como a melhor opção. Você não estar nem aí pra quem será candidato à prefeitura em outubro, mas deve querer falar sobre direitos dos animais, mudanças na educação, segurança, economia e afins.
Vocês tem noção do quanto isso é bom pra todo mundo? 
Ok, nem pra todo mundo, tem marqueteiro que está doente com isso. Mas é bom pra você, cidadão.
Você não é obrigado a tomar conhecimento de quem é aquele cara em cima da hora, apenas por comerciais de TV ou por um horário político eleitoral que ninguém assiste. Não precisa decidir na pressão, no meio de um mar de informações lançadas por gente que mais que lhe convencer, quer lhe confundir. Agora você tem tempo, lugar e oportunidade de saber mais sobre o cara em quem pode ou não votar. Tem tempo pra pesquisar sobre ele, interagir, propor ideias, colaborar com as já existentes, criticar e avaliar respostas. Agora você tem melhores ferramentas para estudar melhor sua opção de voto.
Olhando com cuidado você já verá muito candidato investindo mais tempo em coisas importantes como construção colaborativa de projetos de governo, em debater temas que antes eram tabú, tentando se aproximar mais da população, interagindo sem filtro, sendo cobrados, criticados e, eventualmente elogiados. Eles estão em páginas no Facebook que falam de causas que defendem, estão em grupos que julgam estratégicos, estão produzindo conteúdo para tentar ganhar relevância sobre temas que são importante para seus eleitores.
Estão investindo em games, apps, em fóruns, em campanhas pontuais. Estão apresentando opinião e conversando de verdade com gente que nunca imaginou poder debater com um possível futuro prefeito o destino de sua cidade.
Essa é a hora de fazer aquela pergunta o candidato sempre evita.
É hora de saber o que ele pensa sobre os temas importantes para você, para os seus, para sua cidade.
É hora de fazer com que se posicione.
É hora de cobrar uma campanha propositiva.
É hora, amigo e amiga, de fazer valer as oportunidades que essa universo digital te dá.
Tem gente fazendo bem feito, tem gente fazendo mal feito, mas o importante é que estão fazendo e isso beneficia vc, os seus, a cidade, o país e a democracia.
Logo, vamos deixar essa coisa de "eu odeio falar de política e eleições", vamos mudar essa postura. Sua responsabilidade não começa e termina na urna, ela é perene, faça valer. Ou depois fique compartilhando post no Facebook, tentando derrubar presidente ou prender político ladrão que você pode não ter ajudado a eleger, mas também não impediu.

"Tudo que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam" Edmund Burke.