segunda-feira, maio 02, 2016

O que aprender com o colapso na Venezuela.

Há um enorme fascínio ao assistir sobreviventes em bucólicos cenários cheios de neve, ou situações armadas para demonstrar alguma técnica, mas como é um SHTF real na América do Sul? A Venezuela responde.


Mercado em março/2016 - Crise humanitária na Venezuela
É importante frisar bem a diferença entre crise e colapso, a Venezuela esta há anos em crise, desde que a esquerda de Chávez assumiu o poder, mas entrou definitivamente em colapso após sua morte, realmente não vale a pena descrever aqui as causas da situação do país, e sim os efeitos sobre a população.

Fila para conseguir a cesta básica.
A Venezuela foi pilhada por seus governantes, foi levada ao limite, uma baixa no preço do petróleo foi o estopim, onde o país entrou em queda livre. Imagine um camponês que plantou um campo de grãos para comercializar, vem o governo e confisca sua produção ao invés de pagar o preço por seu trabalho, entrega um tíquete valendo uma cesta básica que todos recebem por programas sociais.
Na safra seguinte os agentes do governo chegam à propriedade e encontram-na vazia. Nada foi plantado ali. O governo então compra as sementes e o insumo e entrega ao camponês, para que ele plante. No ano seguinte nada. O camponês não vai trabalhar de graça. No terceiro ano o governo não tem mais dinheiro para sementes.

Sem dinheiro, sem sementes, sem a boa vontade do camponês e sem amigos, já que o governo também roubou bens das empresas estrangeiras que funcionavam ali, logo não há a quem pedir socorro.

Imagine cada item essencial a vida e substitua pela semente, você vai ter uma boa ideia do que acontece por lá.
Nos bairros nobres há água por duas horas por dia, e energia por duas ou três horas, nos subúrbios e favelas um balde por família a cada três dias, coletado de caminhões pipa guardados pelo exército. As pessoas tem seus corpos marcados por tintas, com a numeração de sua senha, para evitar que peguem mais o que permitido.

Também são marcados todos os que vão para os mercados e pontos de distribuição, com tinta na pele, e passam dias na fila para conseguir uma cota de frango por mês. Eram dois frangos no inicio, agora é meio e não há frangos para todos.

Fila em áreas nobres de Caracas.
Tenso? Não, não muito as pessoas com poder para serem relevantes na sociedade recebem suas cotas completas primeiro e não sofrem tanto, mas a maioria é dependente de programas sociais do governo, e a eles é reservado o inferno. No atual "mercado negro" venezuelano se encontra de tudo, de papel higiênico a carne, uma única lata de atum custa 10 % do salário mínimo, um rolo de papel higiênico 5%.
O governo combate os contrabandistas de comida com a mesma fúria que combate traficantes ou opositores ao governo, até mais. Em algumas partes do país, gás de cozinha é um luxo imensurável, mas são os medicamentos as verdadeiras fontes de fortuna aos contrabandistas, dos 6.000 remédios permitidos no país, só 450 são obtidos esporadicamente.



A pequena rede de preparadores Venezuelanos relata "batidas" e "fiscalizações" feitas pela policia e militares em propriedades privadas, lenha, conservas, remédios e até produção de árvores frutíferas são confiscados por policiais corruptos, quem consegue guardar ou produzir algo em casa, tem de enterrar ou esconder em sótãos e telhados.

Montagem : Jornal El País
O governo massacra o povo, os lobos também.
Não são só corruptos a saquear e matar, em janeiro o governo do país parou de divulgar os números da violência, a capital Caracas é a cidade mais violenta do mundo em mortes.

Aqui vem uma informação significativa, a capital Caracas não é o pior setor do país, mesmo fabulosamente violento, com saques e enfrentamentos nas ruas ainda é mais seguro que o interior são nas cidades mais afastadas e menores que acontecem as maiores privações, matanças e atrocidades!


Surpreso sobrevivencialista? Não fique, isso é regra. O que nós entendemos como BOL também nos leva pra longe dos olhos e lentes dos celulares que tudo gravam hoje em dia. Nesta fase do SHTF as pequenas comunidades ficam semanas sem energia, já que seu sistema geralmente é mais sucateado que o da capital e problemas comuns se tornam absurdos sem solução. Se faltam gênero na Capital e nas grandes cidades imagine nas pequenas. Uma grande logística é montada para proteger uma simples carga de comida e as chances de ter que parar antes e distribuir a carga é enorme, logo os afastados recebem menos recursos.
Muitas famílias estão abandonando propriedades rurais, que são saqueadas continuamente e indo para os grandes centros onde pelo menos há escassez e a chance de conseguir comida e remédios, o que agrava mais ainda a crise.
Tropas de Selva patrulham matas e florestas em busca de contrabandistas e espertalhões que criam animais escondido ou que caçam para complementar o prato da família.

Supermercado em Caracas.
Um fator importante, em meio a tudo isso 3 epidemias assolam os vizinhos: Zika, Dengue e Influenza H1N1, além da falta de medicamentos, os hospitais que ainda não faliram estão em greve ou ocupados por militares.

A Venezuela está sendo uma rica aula sobre o SHTF Sul-Americano e o que funciona ou não em termos de estratégia neste canto do mapa mundi, sem concepções enlatadas ou a linda neve bucólica dos programas de autossuficiência da TV, são lições de sobrevivencialismo curto e grosso de um povo muito parecido com o nosso, um exemplo censurado de como não se pode confiar em governo nenhum.
Até o fechamento deste artigo pro blog, identificamos que dos seis canais de preparadores venezuelanos que seguíamos apenas um continua no ar, cinco foram deletados ou excluídos.

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