Por Léo Rosa
O aspecto penal da corrupção é o que mais alcança notícia, decorrendo daí que é o mais debatido. O processo chamado Mensalão e esse outro que leva o nome de Lava Jato estabeleceram a questão no rol das preocupações nacionais.
A dimensão moral dessa prática deletéria também tem merecido reflexões. Houaiss, moral: “conjunto de valores, individuais ou coletivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens”.
Não universalizo a máxima de Joseph-Marie Maistre, segundo a qual cada povo tem o governo que merece, mas não consigo separar de todo, quando o sistema eleitoral tem razoável transparência, o eleito do eleitor.
Vários estudos mostram que os brasileiros somos permissivos com corrupção. Embora façamos os políticos objeto do nosso discurso ético, costumamos, resolver muito de nossos problemas por meios “políticos” não honestos.
Há quem conclua que a Sociedade corrupta corrompe seus cidadãos; há quem afirme o inverso: indivíduos corruptos conformam a Sociedade. Ora, essas coisas não são separáveis; elas se implicam reciprocamente.
Somos uma Sociedade corrupta e somos muitos indivíduos corruptos. Há projeções da Fiesp que indicam que roubamos anualmente de nós mesmos por meio de práticas corruptas algo como cem bilhões de reais (2,3% do PIB).
O número em si diz pouco. As sequelas finais dessa nossa permissividade devem ser buscadas na convivência da Nação. O pior delas é o roubo da qualidade da vida em comum, logo, da vida individual.
Tudo o que é público no Brasil é mal falado pelos brasileiros: os serviços são ruins, as obras jamais se concluem, as escolas não têm qualidade, a segurança em guerra civil, as empresas prestam péssimo serviço.
Tomamos posição diante disso tudo como se “isso tudo” não nos incluísse. Falamos de nossas coisas como se acontecessem à parte de nossa responsabilidade. Parece que ações ou omissões não incidem nas circunstâncias.
Mas incidem e nos causam, além de custos materiais, uma perda irreparável: o custo humano. A corrupção, além de aniquilar com a qualidade do que é público, surrupia renda dos mais pobres.
Seja, as classes menos privilegiadas são roubadas quando os desvios corruptos sucateiam os serviços públicos e quando a renda nacional é concentrada em poucos bolsos por meio de uma “mais valia” larápia.
Além disso, escândalos de corrupção somados à violência decorrente de desvios de verbas sociais (rouba-se até merenda escolar) e ao preço corrupto para realizar negócios (custo Brasil) destroem a imagem do País.
Perdem-se investimentos empresariais. Empobrecemos porque o mundo desconfia de nós. Ainda pior são os efeitos “internos” do péssimo conceito em que nós nos temos: esvaiu-se o sentido de política.
O cidadão probo sente-se impotente diante de tanta corrupção e se debanda da coisa pública. O que é de todos, ou deveria sê-lo, resta coisa de ninguém. O sentido de pertinência está substituído pela indignação de ludibriado.
Chegamos às hostilidades com membros desse malfadado e desagregado consórcio eleito para governar o País. Dilma apupada nos jogos da Copa de futebol, Temer vaiado na abertura das Olimpíadas.
Talvez essa seja a melhor herança política do lulopetismo: a raiva indignada. O País dividiu-se em grupos que destilam ódio e se querem aniquilar reciprocamente, mas que trouxeram a vida pública de volta à pauta.
Mas, sobre os custos disso? Que dizer? Além do tanto acima elencado, temos outro tipo de corrupção, bem pior, bem mais grave. O Brasil chegou ao triste ponto de praticar corrupção de Estado.
Não falo só de Dilma deteriorar interesses públicos para se reeleger a si e a Temer. Não refiro só o uso do erário para comprar congressistas, desvirtuando a função de um dos Poderes da República.
Menciono as decorrências do processo de Impeachment. Dilma fez negociata com as altas funções governamentais para evitar seu afastamento. Temer oferta o que Dilma não negociou a fim de vê-la cassada.
Ao fim dessa mancomunação Dilma/Temer, desse escárnio com o interesse nacional, o Brasil estará loteado. Grupos de poder terão mercadejado cargos, verbas, “direitos”. O ódio das ruas não é bom, mas é ódio com razão.
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